#01. Maryland

Wye Oak - árvore símbolo de Maryland

O Estado 51 começou a sua “peregrinação” pelo estado de Maryland. Localizado na região “Mid Atlantic”, este estado é muitas vezes denominado por old line state, free state ou ainda de Chesapeake bay state.  Com uma baía fantástica, este estado apresenta uma topografia muito variada, podendo encontrar-se florestas, dunas, pântanos e imensos rios e ilhas. Não é por acaso que também tem a alcunha de american in miniature¸ pois neste estado podemos observar praticamente todos os biótopos da grande nação americana. Em Maryland fervilha a inovação e investigação de ciências da vida – o estado tem a particularidade de albergar mais de 350 empresas de biotecnologia.

Baltimore Skyline

Apesar da capital deste estado ser Anapolis, a sua maior cidade é Baltimore, com quase 6 milhões de pessoas. Baltimore é o grande centro cultural deste estado, e é lá que encontramos a principal cena musical. Este é uma cidade cheia de tradições, histórias de guerra, e, claro, caranguejos azuis! É das cidades preferidas para rodar filmes e séries, entre as mais conhecidas “Perigo Público”, “Eraser”, “12 Macacos”, ou ainda a muito premiada série policial “The Wire”.

Em Baltimore a música já dava que falar no século XIX – começou por ser palco do negócio de publicação de pautas musicais, e um dos principais centros de fabricação de pianos. Habitualmente o género  mais associado a Baltimore são o blues, rock, r&b, ragtime, o jazz e toda a natureza misteriosa e negra associada a esses géneros. Nomes como os The Orioles, Eubie Blake, Billie Holiday, David Byrne, Cab Calloway, DMX, “Mama” Cass Elliot, Philip Glass, Ric Ocasek, Greg Puciato (The Dillinger Escape Plan), Robin Quivers, Sisqo, John Waters, e Frank Zappa, todos nasceram ou passaram um tempo significante em Baltimore.

The Orioles

Pois é, mas a verdade é que estamos no séc. XXI, e com a internet, myspace, bandcamp, blog’s, redes sociais, neste momento presenciamos a um boom de criatividade explosivo. Já é impossível andar em cima de tudo, e cada vez mais um apaixonado por música tem de se focar nalgum lado, em algo que mais gosta. Com a generalização da designação indie, surgem agora cada vez mais diy, músicos que não estão com meias medidas e produzem os próprios trabalhos. Em Baltimore há muito disso como é óbvio, não se alheando ao que acontece um todo por todo mundo, e em especial nos Estados Unidos de América. Em Baltimore encontrámos muitos freaks, muita gente boa, uns completamente experimentais e esquizofrénicos, outros com os pés no chão e atinados. Partilham obviamente a vontade de viver exclusivamente da música, da arte, algo que nem sempre é possível, mesmo nos tempos que hoje correm. Um exemplo disso mesmo é o Wham City, um grupo de aristas independentes, com grandes laços de amizade, que junta forças para colaborar uns com os outros, ou simplesmente colaborarem sozinhos. O grande lema do grupo é o constante fluxo de ideias e projectos, sem qualquer limitação estética. Fazem performances de arte, teatro, espectáculos de moda, concertos, festivais, livros, entre outras redes cibernéticas, no intuito de criar e dinamizar uma comunidade artística.

Wham City website

Wham City

“Wham City is what makes me feel like I don’t have to be disappointed in my life.”

— Connor Kizer

Pelas avenidas de Baltimore, algumas editoras também nos captaram a atenção. A partir de ideais semelhantes aos da Wham City, a Wildfire Wildfire surgiu com um propósito de revolução. Gerida pelos amigos Devon Deimler, Matthew Papich, Michael Petruzzo, Kieran Gillen e com a colaboração de centenas de outros amigos, esta equipa de produção incopora também gente da Wham City como Dan Deacon, Santa Dads ou Video Hippos. Na página da editora podemos ficar a conhecer os seus artistas e projectos, entre arquivos e notícias. Como no site se deixa bem claro, “business hours are over”, isto é, grande parte do espólio da editora esgotou, pelo que deixaram de vender os álbuns online. Fica a recomendação de procurarem ver os desenhos existentes em arquivo e o desafio de conseguir encontrar algumas das edições da Wildfire Wildfire nas lojas de música independente de Baltimore.

Wildfire Wildfire website

A Família Wildfire Wildfire

Ficámos ainda a conhecer a curiosa história por detrás da Friends Records, editora gerida por dois amigos – Brett Yale e Jimmy MacMillan. O primeiro escreve e dirige há muito um dos mais conhecidos blogues especializados na música de Baltimore – Bmore Musically Informed -; o segundo trabalha numa loja de discos na baixa de Baltimore. Da amizade entre os dois, mas muito particularmente da amizade entre eles e muitos músicos de Baltimore, resultou a ideia de editar e distribuir alguma da melhor música feita na sua cidade. No portfolio da editora constam lançamentos de nomes como Future Islands, Weekends, Moss of Aura, Secret Mountais e Holy Ghost Party, entre outros. Os formatos variam do velho vinil, à verdadeira cassete, ou, claro, a via digital. A ideia não passa por grandes lançamentos, mas antes pela edição de pequenas pérolas musicais. A não perder de vista o blog da editora (http://friendsrecords.tumblr.com), em constante actualização.

Friends Records website

Por fim, um destaque incontornável para aquela que será, actualmente, a banda mais bem sucedida da cena alternativa de Baltimore – os Beach House.  A banda surgiu em 2004 na cidade de Baltimore, e ao longo destes sete anos tem conseguido uma consistência impressionante e um considerável sucesso comercial. Victoria Legrand, que cresceu entre Paris e Philadelphia, mudou-se em 2004 para Baltimore e foi já encantada com a atmosfera da cidade que conheceu Alex Scally. Em 2006 lançaram o álbum de estreia homónimo, um dos melhores do ano para a crítica especializada. A simplicidade dos arranjos e a voz de Victoria rapidamente catapultaram esta dupla para um patamar superior, no qual se mantiveram com as consequentes edições de Devotion (2008) e Teen Dream (2010). Apesar de todo o sucesso que têm obtido, a banda continua com os pés bem assentes na terra e na cidade onde “nasceram”, colaborando e convidando frequentemente novos e emergentes projectos de Baltimore para a eles se juntarem – um exemplo de como Baltimore continua efervescente e se recomenda!

Beach House - Alex Scally e Victoria Legrand

  1. Wye Oak – Two Small Deaths [Civilian, 2011]
  2. Dan Deacon – Wham City [Spiderman of the Rings, 2007]
  3. Jana Hunter – K [Blank Unstaring Hairs of Doom, 2005]
  4. Lower Dens – Two Cocks [Twin-Hand Movement, 2010]
  5. Video Hippos – Bear Fights [Unbeast the Leash, 2007]
  6. Santa Dads – Lion Song [The End, Part Two: The Beginning, 2007]
  7. Future Islands – Tin Man [In Evening Air, 2010]
  8. Secret Mountains – Gate Gate Paragate [Caddish, 2010]
  9. Beach House – Zebra [Teen Dream, 2010]

2 comentários

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2 responses to “#01. Maryland

  1. Ricardo Jerónimo

    Só ficaram a faltar os Small Sur!…

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